Por que trabalhar a extensão no ensino médio integrado?
Última modificação: Quinta-feira, 31 de outubro de 2024
O ensino médio integrado ao ensino técnico vai além de uma concepção puramente educacional; ele está enraizado em debates éticos e políticos, refletindo as discussões sobre a sociedade e o mundo que desejamos construir. Por isso, também possui um caráter filosófico.
Esse modelo de educação busca enfrentar a dualidade histórica do sistema educacional no Brasil, acentuada pelo capitalismo, que divide a sociedade entre aqueles que vendem sua força de trabalho e aqueles que se apropriam dessa produção. No contexto escolar, essa divisão se traduz na formação para gerentes/patrões e na formação profissional para os filhos da classe trabalhadora.

A fase da adolescência, etapa de desenvolvimento e busca por autonomia, é fundamental para essa proposta. Nela, o jovem começa a produzir e a orientar suas próprias decisões, o que é um pressuposto essencial para a formação de cidadãos capazes de contribuir para a sociedade de forma consciente e ativa.
Por isso, ao promover uma educação integral, o ensino médio integrado ao técnico visa proporcionar aos jovens o direito ao conhecimento — ou seja, o acesso à ciência e aos valores culturais que foram produzidos historicamente. É a partir do trabalho, não apenas em seu sentido econômico, mas como uma expressão humana essencial, que homens e mulheres constroem e reconstroem a realidade, tanto material quanto social, na qual vivem.
Ao tratar o ensino de forma integrada, permite-se ao estudante entender a relação entre conhecimentos gerais e específicos, entre teoria e prática. A educação passa a fazer sentido para o estudante quando ele pode compreender a origem dos conteúdos e sua aplicação em contextos reais, tornando o aprendizado mais significativo.
A prática extensionista, fundamentada nos pressupostos de Paulo Freire, vem justamente para promover esse entendimento. Ela proporciona um espaço de diálogo autêntico, onde esses jovens participam ativamente das ações, desenvolvem criticidade, a busca pelo saber e conquistam sua emancipação. Assim, esses futuros cidadãos aprendem para si e para o mundo, assumindo um compromisso de responsabilidade social e de transformação coletiva. É através dessa formação integral e humanizadora que estarão aptos a contribuir para uma sociedade mais justa, crítica e participativa.
VAMOS REFLETIR?
Assista o filme “Vocacional — Uma Aventura Humana”. Este documentário retrata a experiência das Escolas Vocacionais de São Paulo nos anos 1960, uma iniciativa que, assim como os ideais de Paulo Freire, buscava integrar teoria e prática, ciência e cultura, em um ambiente de ensino comprometido com a formação integral e a autonomia dos estudantes. O filme é uma excelente oportunidade para entender a aplicação real desses princípios e para se inspirar em práticas educacionais transformadoras.
Aprofundando o conhecimento:
Artigo: Trabalho e educação: fundamentos ontológicos e históricos. Autor: Demarval Saviani Ano: 2007
Artigo: Ensino médio: em busca do princípio pedagógico Autor: Paolo Nosela Ano 2011
Livro: Ensino Médio Integrado: Concepções e Contradições Autor: Gaudêncio Frigotto, Maria Ciavatta e Marise Ramos (Orgs.) Ano: 2012
Referências:
BRASIL.MEC. Educação profissional técnica de nível médio integrada ao ensino médio. Brasília: DF, dez. 2007. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/setec/arquivos/pdf/documento_base.pdf. Acesso em: 29 ago. 2023.
RAMOS, Marise. Concepção do ensino médio integrado. Texto apresentado em seminário promovido pela Secretaria de Educação do Estado do Pará. Pará: 2008. Disponível em: http://forumeja.org.br/go/sites/forumeja.org.br.go/files/concepcao_do_ensino_medio_integrado5.pdf. Acesso em: 26 nov. 2022.